sexta-feira, 11 de maio de 2007



A praia da Aguda pertence à freguesia de Arcozelo, Concelho de Vila Nova de Gaia, Distrito do Porto.

A Aguda é uma localidade do litoral de Vila Nova de Gaia conhecida pela sua pesca artesanal baseada em métodos tradicionais transmitidos de geração em geração. Por volta de 1870, pescadores da Afurada e de Espinho instalaram-se neste local para construir os primeiros abrigos em madeira e para pescar sobretudo caranguejo, conhecido como "pilado", que vendiam aos agricultores locais como adubo. O caranguejo foi sendo substituído pelos adubos químicos, mas a pesca continuou e evoluiu com o aparecimento de novas artes. De há três décadas para cá, porém, a pesca artesanal encontra-se em declínio. É hoje um dos últimos núcleos piscatórios do seu género em Portugal.



No âmbito do projecto "A Barroeira na Aguda", foram desenvolvidas algumas actividades, entre as quais:





  • Trabalho de campo - foi definido o processo de amostragem, onde foram recolhidas amostras do recife da barroeira. Mediram-se os parâmetros fisíco-químicos e realizou-se a recolha de elementos que permitem determinar o volume do recife escolhido, o crescimento linear do tubo e a densidade populacional do recife. Foram recolhidos dados sobre o conhecimento da barroeira pela população, através de inquérito por questionário.

  • Trabalho no laboratório e na sala de aula - com o objectivo de tratar o material recolhido, estudou-se a biologia da barroeira, com recurso a lupas binoculares, máquina fotográfica e documentação de apoio. Foram realizadas também actividades de filtração, decantação e determinação da salinidade da água do mar. Estudou-se a influência de determinados factores ambientais (fisico-químicos) no crescimento e / ou sobrevivência da barroeira. Analisou-se as medidas efectuadas tendo em vista a definição de modelos matemáticos. Estudou-se a orientação dos tubos de areia constituintes dos recifes. A nível da matemática fez-se um estudo estatístico dos dados recolhidos relativamente ao conhecimento da população sobre a barroeira.

  • Produziram-se também trabalhos, entre estes podemos destacar o poster, vídeos, o blog e uma disciplina na plataforma moodle da Escola.





Algumas turmas desta Escola estão a desenvolver um projecto sobre a Barroeira na Aguda, sob a coordenação de alguns professores de Biologia, Matemática, Física e Química e TIC.As tarefas que irão ser realizadas visam atingir os seguintes objectivos:
  • estudar a barroeira e o seu habitat;

  • conhecer a importância ecológica da barroeira na construção de recifes;

  • estudar a evolução da comunidade da barroeira na Aguda;

  • conhecer medidas para a protecção da barroeira .
A barroeira, de nome científico Sabellaria alveolata (L.) é uma minhoca poliqueta com as seguintes características:
  • Forma = até 4cm de comprimento;

  • Corpo cilíndrico com 32-37 segmentos (figura 1);

  • Habitat = em tubos dispostos em colónias e constituídos por grãos de areia (figura 2)Incrustando rochas e conchas;

  • Vive na zona entre marés de praias rochosas, como é o caso da Aguda;

  • Local de observação = Aguda, Mindelo, Cabo do Mundo;

  • Distribuição = Mediterrâneo, Atlântico, Canal da Mancha, Mar do Norte.

Figura 1 – Exemplares da Sabellaria alveolata (L.)


Figura 2- Pormenor dos tubos construídos pela Barroeira



Figura 3 – Recifes de barroeira

A importância da barroeira reside no facto dos seus recifes contribuírem para a diversidade animal e, consequentemente, para o aumento dos recursos piscatórios costeiros de grande interesse para o Homem. Por isso, não devem ser destruídos. Assim, os recifes não devem ser pisados nem destruídos à força de picaretas na procura de iscos que vivem nos tubos vazios da barroeira.






Estrutura de protecção costeira: o quebra-mar da Aguda


A construção do quebra-mar da Aguda, de forma destacada e paralelo à costa, iniciada em Outubro de 2001 e concluída em Julho de 2002, pretendia contribuir para a segurança da frota local, facilitando o acesso à praia, bem como a minimização dos efeitos da erosão do lado sul da praia. O quebra-mar tem 330 metros, de comprimento, seis de largura e a cota de coroamento é de cinco metros acima do zero hidrográfico (ZH) (Weber, 2005; Santos et al., 2002). Dos vários impactos previstos para esta obra destacaram-se os sedimentares, nomeadamente a formação de um tômbolo por efeitos de difracção, não tendo sido previsto um impacto muito significativo a sul. Foi ainda prevista a acumulação de sedimentos a norte e a diminuição a sul, durante a sua construção (Weber, 2005). Pouco tempo depois, uma importante variação de sedimentos teve lugar na praia: uma acumulação de areia no lado norte e uma diminuição a sul (Santos et al., 2002; Weber, 2005).
As estruturas de protecção costeiras, como o quebra-mar da Aguda, alteram normalmente o sistema de correntes e muitas vezes o abastecimento natural de areia nas praias (Davenport & Davenport, 2006). O decréscimo do hidrodinamismo local conduz ao desaparecimento gradual de espécies características de praias expostas, como os mexilhões, ou ao surgimento de outras espécies típicas de praias menos agitadas, como algas do género Fucus. A ocorrência de impactos ambientais pode ser identificada por alterações na distribuição e composição das comunidades biológicas.
O fenómeno de difracção das ondas faz com que, num sector limitado (junto do término do quebra-mar), a ondulação mude de rumo. No caso da praia da Aguda, como a ondulação dominante neste trecho é de noroeste, no referido sector passou a ser de sudoeste. O tômbolo formado criou uma baía de águas calmas, passando a parte central da praia da Aguda de exposta a abrigada (Weber, 2005). Este facto pode provocar localmente uma redistribuição de certas espécies, consoante as suas características adaptativas ao grau de exposição das ondas.
Lamberti & Zanuttigh (2005) mostraram que os fluxos relacionados com o hidrodinamismo influenciam o processo de colonização bem como o tipo de organismos intertidais que podem sobreviver nas zonas alteradas. As alterações no transporte de sedimentos, e que resultam normalmente em grandes acumulações de areia, afectam os organismos de diversas maneiras, nomeadamente reduzindo a luz disponível, devido à turbidez, interferindo nos filtros e sistemas respiratórios, pela deposição de areias, ou dificultando a aderência à rocha, através do efeito abrasivo dos sedimentos.
O quebra-mar construído na praia da Aguda será provavelmente responsável por algumas alterações observadas nesta zona, nomeadamente a nível das comunidades biológicas existentes no local. Segundo Weber (comunicação pessoal), os recifes de Sabellaria alveolata sofreram uma regressão significativa, ao nível da sua extensão, a partir do momento em que esta estrutura foi construída.



Transepto da praia da Aguda

Processo de Amostragem :

  • O processo de amostragem realizou-se durante os meses de Abril e Maio de 2007, nas marés baixas iguais ou inferiores a 0.6 metros acima do zero hidrográfico. Utilizou-se como referência a Carta das Marés da Capitania de Leixões.O método utilizado para a recolha de amostras de Sabellaria alveolata consistiu na escolha aleatória de recifes e no uso de um quadrado com uma área de 400cm2. Todo o material incluído nesta área, desde a superfície até ao contacto com o substrato inferior rochoso, foi recolhido com o auxílio de formão e pá de mão, para baldes de 5 litros com tampa. Em cada local de amostragem efectuaram-se aleatoriamente 2 réplicas.





Esquema da praia da Aguda








  • Ampliação do recife da Barroeira